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Mostra traz o ambiente mítico-ritual das religiões de matriz africana no Brasil

A exposição da educadora, pesquisadora e artista visual, Denise Camargo, será aberta ao público em 15 de novembro, na Galeria de Fotos do Centro Cultural Fiesp; o intuito é transformar pensamentos carregados de preconceito e intolerância religiosa, reforçando a presença da mitologia ancestral na cultura afro-brasileira.

A exposição da educadora, pesquisadora e artista visual, Denise Camargo, será aberta ao público em 15 de novembro, na Galeria de Fotos do Centro Cultural Fiesp; o intuito é transformar pensamentos carregados de preconceito e intolerância religiosa, reforçando a presença da mitologia ancestral na cultura afro-brasileira.

 Por: Klelvien Arcenio, comunicação Sesi-SP
13/11/202314:43- atualizado às 12:02 em 07/05/2024

Ao visitar a exposição E o silêncio nagô calou em mim, que chega à Galeria de Fotos do Centro Cultural Fiesp, em 15/11, o público terá a chance de enfrentar seus pré-conceitos sobre os ritos e mitos que envolvem as religiões de matriz africana no Brasil. Também poderá aperceber-se de suas identidades nas imagens produzidas pela educadora, pesquisadora e artista visual, Denise Camargo

As séries, realizadas desde os anos 1990, são em maioria produzidas na Casa das Águas, terreiro localizado em Amador Bueno – SP. Há também imagens feitas em um templo de vodu, em Nova Orleans, Estados Unidos, entre outras que compõem a mostra.  Terreiros são territórios de resistência cultural e simbólica que atravessam a história do Brasil – e contribuem para a preservação das tradições afro-brasileiras.



O mensageiro, 2005. Série Eu só acredito em deuses que dançam.
Denise Camargo

 

A pesquisa poética, iniciada para o doutorado de Denise no Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com orientação da cantora e bailarina Inaicyra Falcão dos Santos, foi mostrada pela primeira vez em 2010. O projeto se consolidou em 2013 e já fez itinerância por Salvador, Brasília e Santa Catarina. Inédita em São Paulo, a exposição procura mais uma vez dissolver pensamentos carregados de preconceito e intolerância, trazendo os visitantes para um mergulho no ambiente mítico-ritual. 

Trata-se de um espaço de experiência, de imersão cultural, de contemplação e respeito ao acervo de saberes”, detalha Denise, vencedora do Prêmio Palmares em 2012 para publicação da tese Imagética do candomblé, uma criação no espaço mítico-ritual. 

As lentes de Denise capturaram e eternizaram imagens que procuram fugir da obviedade dos registros fotográficos sobre o tema. Na exposição, além das fotos, obras como textos poéticos da artista, objetos e um vídeo, editado pelo fotógrafo Guga Ferri. Há ainda um aplicativo, desenvolvido com a cooperação do artista interdisciplinar Fernando Fogliano, para coletar respostas à pergunta: O que cala em você? “A ideia é proporcionar diálogos com o público, construindo uma obra colaborativa e de interação”, salienta Denise. 

A curadoria da exposição é de Diógenes Moura, escritor, editor, roteirista e curador de fotografia na Pinacoteca do Estado de São Paulo, entre 1998 e maio de 2013, e, mais recentemente, de mostras como “Terra em Transe”, em exibição no Centro Cultural do Cariri (CE). 

A exposição reforça o debate contemporâneo sobre a diversidade étnica e cultural do Brasil como um patrimônio imaterial. “Além disso, promove uma ruptura das visões equivocadas e estereotipadas dos terreiros, difundidas, entre outros fatores, em razão do proposital temor criado em torno desses espaços”, complementa Denise. “A exposição trata desse silêncio profundo diante do desconhecido, diante desse mundo proibido que poderá ser entregue à compreensão dos outros”, observa o curador.

INAUGURAÇÃO EXPOSIÇÃO - E O SILÊNCIO NAGÔ CALOU EM MIM.
INAUGURAÇÃO EXPOSIÇÃO - E O SILÊNCIO NAGÔ CALOU EM MIM.
INAUGURAÇÃO EXPOSIÇÃO - E O SILÊNCIO NAGÔ CALOU EM MIM.
INAUGURAÇÃO EXPOSIÇÃO - E O SILÊNCIO NAGÔ CALOU EM MIM.
INAUGURAÇÃO EXPOSIÇÃO - E O SILÊNCIO NAGÔ CALOU EM MIM.
INAUGURAÇÃO EXPOSIÇÃO - E O SILÊNCIO NAGÔ CALOU EM MIM.
INAUGURAÇÃO EXPOSIÇÃO - E O SILÊNCIO NAGÔ CALOU EM MIM.
INAUGURAÇÃO EXPOSIÇÃO - E O SILÊNCIO NAGÔ CALOU EM MIM.
INAUGURAÇÃO EXPOSIÇÃO - E O SILÊNCIO NAGÔ CALOU EM MIM.
INAUGURAÇÃO EXPOSIÇÃO - E O SILÊNCIO NAGÔ CALOU EM MIM.
INAUGURAÇÃO EXPOSIÇÃO - E O SILÊNCIO NAGÔ CALOU EM MIM.
INAUGURAÇÃO EXPOSIÇÃO - E O SILÊNCIO NAGÔ CALOU EM MIM.
INAUGURAÇÃO EXPOSIÇÃO - E O SILÊNCIO NAGÔ CALOU EM MIM.

 

Como começou

E o silêncio...” revela o processo artístico de Denise, menina preta nascida na periferia de São Paulo, que cresceu com a herança familiar do catolicismo. Em 1996, ela é iniciada no candomblé e se descobre tocada pelas vivências que os terreiros promovem. O chamado dos tambores é também um encontro com seus ascendentes míticos. Esse contexto lhe dá, assim, a dimensão de sua existência como mulher preta em um Brasil marcado pelo racismo estrutural. 

O que teve início como registros do cotidiano nos terreiros começou a ganhar forma quando Denise se encontrou com o fotógrafo baiano Mario Cravo Neto (1947-2009), justamente no ano em que ele lançava o livro Laróyè (2000), uma homenagem a Exu. A conversa entre eles foi decisiva para seu processo artístico. 

Tenho um capítulo na tese analisando as relações mitológicas que o fotógrafo estabelece entre esta divindade, que possui temperamento irascível e brincalhão responsável pelo princípio das transformações, e suas representações e apresentações na cultura baiana de Cravo Neto”, conta a artista. 

 

Pertencimento

Denise é uma das representantes na quebra de hegemonia da arte branco-brasileira, algo que se concretizou com o avanço das políticas afirmativas dos governos progressistas e pavimentou a presença de artistas e curadores negros em exposições de artes na última década. “Queria fazer um trabalho que levasse em consideração a produção de imagens nesses espaços sagrados, verdadeiros polos de resistência cultural, e se refletisse nos brasis que moram em mim”. 

Para o curador, a mostra é uma espécie de segredo. "É sobre o encontro de uma mulher consigo mesma, com a sua ancestralidade, com a sua existência.", observa. Portanto, “trata de humanidades, o que já é um convite para reflexões, sobretudo para o público paulistano, que pouco conhece sobre o Brasil verdadeiro", completa Diógenes. 

A exposição, vale observar, fala de cultura e tem papel educacional ao explicar elementos presentes nos rituais do candomblé, não é sobre religião. Procura apresentar seus enredos, entretanto: nas escolhas curatoriais para as cores da parede, por exemplo; na elaboração da expografia, realizada pela arquiteta e cenógrafa Juliana Augusta Vieira; na programação visual do designer Pedro Menezes; na paisagem sonora criada pelos músicos Che Leal e Ugletson Castro, especialmente para o espaço expositivo. “Tudo isso intensifica a manutenção de um tempo cíclico, que é o tempo dos mitos, e a cosmogênese preto-brasileira.”, ressalta a artista. 

O papel desempenhado pela mostra alinha-se à missão do Sesi-SP de contribuir com a sociedade civil, promovendo Educação e Cultura. A gerente de Cultura da entidade, Debora Viana, enfatiza o compromisso da instituição com a arte e a formação de público e reforça o papel da entidade com as pautas contemporâneas da interseccionalidade, abrindo espaços para novas vozes e expressões artísticas. Receber essa exposição é um importante passo para promover a reflexão sobre a Cultura nacional. "A exposição E o silêncio nagô calou em mim é uma mostra que possibilitará atuarmos no desenvolvimento de cidadãos críticos, sensíveis e empoderados. Além de assegurar a democratização da cultura de forma gratuita nas suas mais diversas manifestações e promover a economia criativa nacional, enfatiza Debora Viana.

 

Acessível

O projeto contempla visita autônoma para pessoas cegas, por meio de audiodescrição acionada com QRCode e roteiro podotátil. Tanto a edificação quanto a Galeria de Fotos do Sesi-SP não têm barreiras para cadeirantes. Estão previstas visitas mediadas pela artista, pelo curador e conversas com o público ao longo do período de exibição, que vai até 14 de abril de 2024.

 

Denise Camargo é artista visual. Atua em ensino, pesquisa, curadoria e gestão de projetos artísticos e culturais.  A escrita e as imagens fotográficas são matéria para sua produção, que permeia a poética das relações e da interação; as matrizes ancestrais da diáspora negra; os corpos em territórios de resistência social e política; e as políticas das representações. Doutora em Artes (IA/Unicamp) e Mestra em Ciências da Comunicação (ECA/USP), é docente na graduação do Departamento de Artes Visuais/Instituto de Artes/Universidade de Brasília e do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais, na área de concentração Métodos, processos e linguagens. Realiza estágio pós-doutoral na Universidade Estadual do Rio de Janeiro com a pesquisa artística e curatorial intitulada: “De encruzilhada e cura”, sobre sua atuação artística na equipe curatorial no BredaPhoto Festival 2022.  Foi uma das 150 artistas participantes da “Pemba: Residência Preta” em 2022.  Entre as muitas exposições, está a individual “De cor da pele” (Brasília – DF, 2019). É uma das 240 artistas na exposição “Dos Brasis: arte e pensamento negro (Sesc Belenzinho, São Paulo – SP, 2023/2024). Nasceu em São Paulo – SP. Vive e trabalha em Brasília – DF, desde 2009.

Diógenes Moura é curador, escritor e roteirista. Foi curador de fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo de 1993 e 2013, onde realizou mais de uma centena de exposições, publicações, reflexões sobre o diálogo entre fotografia e literatura, contribuindo para o acervo fotográfico do Museu ser reconhecido como um dos mais importantes da América Latina. Segue, como curador independente, em projetos para importantes museus e instituições como o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e o Museu da Fotografia, em Fortaleza, Museu Afro Brasil Emanoel Araújo, Itaú Cultural e SESC, em São Paulo. Escreve desde os doze anos. Seu primeiro livro, Mingau de Almas ou O Traço Fixo da Loucura (1982), foi publicado pela Fundação Cultural do Estado da Bahia. Depois viriam Tire a Cadeira da Chuva (1986), Elásticos Chineses (1998), Drão de Roma – Dezembro Caiu (2006), Ficção Interrompida (2010), premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte e finalista do Jabuti de Literatura em 2011, Fulana Despedaçou o Verso (2014), O Livro dos Monólogos – Recuperação para ouvir objetos (2018), semifinalista do Prêmio Oceanos de Literatura, O Antiacarajé Atômico – Dias Pandêmicos (Selo Exu de Dentro, Edição do Autor, 2020) e VAZÃO 10.8 – A última gota de morfina (2021), Minhocão (2023) e o recém lançado O Pinguelo Caído – Um Surto Baiano. Nasceu em Recife – PE e está radicado em São Paulo – SP desde 1989.


E o silêncio nagô calou em mim

de 15 de novembro de 2023 a 14 de abril de 2024 | das 10h às 20h | gratuita


Galeria de Fotos do Centro Cultural Fiesp

Avenida Paulista, 1313, em frente ao metrô Trianon-Masp

 

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